Trabalho voluntário na região serrana: o potencial transformador que essa atitude representa para o crescimento interior dos indivíduos.

No último final de semana (22 e 23/01) o Instituto Ekloos, em parceria com a ADEC, mobilizou voluntários para ajudarem em Areal na região serrana do Rio de Janeiro, onde pelo menos 800 moradores estão desabrigados ou desalojados devido às enchentes que atingiram o local no dia 12 de janeiro. Segundo a Prefeitura, pelo menos 50 casas foram destruídas e outras 50 devem ser interditadas pela Defesa Civil. Contudo, o mais impressionante é que não houve nenhuma morte nessa enxurrada que atingiu o município.

Na região, muitas casas apresentavam rachaduras provocadas pela força da água. A marca barrenta nos muros chegava a mais de 1 metro de altura e as pessoas aproveitavam o dia de sol para lavar os cômodos e móveis que restaram. Havia muita poeira e entulho nas ruas e o rio que corta a cidade, apesar de cheio de terra que se soltou das encostas e de galhos e troncos de árvores que haviam sido arrastadas, permanecia com uma correnteza intimidadora. Os moradores contaram que no dia em que houve a enchente não estava chovendo, o céu estava azul, por isso ninguém estava esperando tamanha destruição. A água, entretanto, invadiu primeiro São José do Vale do Rio Preto, cidade rio acima, e à medida que o rio foi enchendo, foi preciso abrir as comportas da barragem Morro Grande.

Ao perceber que o volume de água estava aumentando, o Prefeito Laerte Calil ligou pra São José e soube que lá a água já havia feito um grande estrago. O governante então tomou uma decisão que salvou muitas vidas: com o carro de som da rádio comunitária circulando pela cidade, o Prefeito fez um “alerta máximo” para que a população, principalmente aqueles que residiam próximo às margens do Rio, deixassem suas casas e fossem para locais mais seguros. Algumas pessoas foram contra a iniciativa de avisar a todos, pois acharam que poderia desencadear um pânico geral. E foi graças a essa medida emergencial que todos sobreviveram em Areal.

Solidariedade

A solidariedade acompanhou nossa experiência na cidade de diferentes formas: Karen Assis, moradora de Posse, bairro de Petrópolis vizinho à Areal, abriu as portas de sua casa para nos receber. No total, ficaram hospedadas em sua casa 20 voluntárias vindas de diversas cidades. Priscila e Elisabeth, por exemplo, são duas jovens universitárias de Juiz de Fora, que pegaram 6 caronas na estrada até chegarem a Areal. Muitas outras pessoas também queriam estar lá ajudando, entre elas uma senhora de 83 anos, que enviou um bilhete junto com sua doação, uma colcha dobrada com muito zelo:

“Está rasgada, velhinha mas serve para forrar. Que Deus esteja com vocês! Se eu pudesse estaria aí para ajudar. Tenho 83 anos e sofro junto com vocês.”


Evanjuelia














No sábado, fomos a uma Escola Municipal, onde cerca de 20 famílias estão abrigadas. Cada família foi alojada em uma sala, para tentar diminuir o desconforto daqueles que perderam suas moradias. Para entreter as crianças organizamos atividades como um teatrinho e uma gincana. Enquanto seus filhos brincavam, uma voluntária ensinava às mães a fazerem tear de pregos, uma atividade que poderá render-lhes alguma remuneração após tantas perdas.

Durante as manhãs, íamos ao CIEP onde todas as doações estão sendo entregues. Lá o trabalho foi realizado juntamente com soldados do exército de Juiz de Fora, que estavam separando e distribuindo roupas e alimentos para serem levados até as áreas atingidas pela inundação. As pessoas formavam uma fila na entrada para pegar as roupas de que precisavam. Os grupos eram liberados para entrar de tempos em tempos, mas era muito difícil encontrar naquela montanha de roupas peças boas ou um sapato com par. As pessoas perderam tudo, mas não perderam a dignidade e mesmo assim, tinham de esperar no sol a sua vez de “escalar” aqueles montes de roupa a procura de algo que lhes servisse. Uma dessas pessoas, visivelmente exausta, falou para mim: “Estou passando mal de tanto procurar peças para mim e pros meus filhos, mas pelo menos agora nós temos o que vestir”.

A prefeitura se mostrou despreparada para gerenciar uma situação de emergência, de forma digna e eficaz. Diante de calamidades cada vez mais freqüentes, o Brasil necessita capacitar seus dirigentes para atuarem de maneira adequada.

Até quando vai durar

Enquanto a mídia estiver cobrindo a tragédia da região serrana, a atenção estará voltada para o local e é provável que as soluções apareçam. A quantidade de donativos vindos de todo o país e até de fora do Brasil mostram que as pessoas se sensibilizaram com a situação. Por outro lado, as doações em dinheiro são menos frequentes, pois infelizmente a população tem pouca confiança de que o seu dinheiro terá o destino correto, mas em momentos como estes, devemos crer que sim, para que na medida do possível, possamos fazer a nossa parte.

Cidades como Areal estão precisando do seu tempo, da sua força de trabalho. Ajude na organização dos donativos, ministrando cursos ou em qualquer outra atividade que contribua para que essas pessoas que foram prejudicadas possam se reintegrar socialmente. Daqui a um algum tempo, quando as coisas aparentemente voltarem ao normal, quando o verão acabar e as chuvas diminuírem, essa região não estará mais sob os holofotes. Será então, que a administração municipal, juntamente com a população, vai assumir a mudança de postura necessária para evitar futuras catástrofes ou será que só há ação quando há audiência?

Lembramos que a área atingida não afetou o Centro Histórico de Petrópolis, a Rua Tereza, as pousadas de Araras, Nogueiras e adjacências, os restaurantes de Itaipava. A mídia esta causando mais estragos do que a enchente, ao informarem que Petrópolis foi destruída. Os estragos foram em uma região isolada. As lojas, os hotéis e restaurantes estão recebendo os turistas, da mesma forma como sempre os receberam. E os habitantes da Cidade Imperial precisam ajudar os municípios vizinhos a se recuperarem, mas para isso dependem do comércio local, pois se tudo parar, além de casas, móveis, as pessoas vão perder suas fontes de renda.

Seja você também o responsável por reconstruir estas cidades. Tem muita gente precisando de você!

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