Os três dias de Immaculée no Brasil

Por Marlon Câmara

Immaculée Ilibagiza é sobrevivente do genocídio de Ruanda, ocorrido em 1994, e autora do livro “Sobrevivi Para Contar”, na qual revela sua história. Ela foi convidada a se apresentar no Brasil pelo grupo Silvia Aquino, em parceria com o Instituto Ekloos. Immaculée chegou ao Rio de Janeiro na manhã do dia 10 de outubro. Ainda pela manhã, a ruandesa pôde acompanhar uma missa realizada no Corcovado pelo bispo Antônio Augusto e pelo padre Jorge Luiz Neves Pereira da Silva, mais conhecido como padre Jorjão. Do Cristo, Immaculée se dirigiu à casa do executivo Olavo Monteiro de Carvalho, que lhe ofereceu um almoço como presente.

Immaculée visita o Cristo Redentor
A chegada ao teatro Oi Casa Grande se deu no meio da tarde, e Immaculée se dirigiu ao seu camarim, onde permaneceu descansando, até um pouco antes da apresentação.

Mas antes da aparição da palestrante, teve início no Teatro a performance emocionante da Banda Filarmônica do Rio de Janeiro, que apresentou a Abertura da Ópera "O Guarany", de Antônio Carlos Gomes, seguida de El Camino Real, de Alfred Reed e Danzón 2, de Arturo Marquez. Após o espetáculo musical, a escritora começou a sua fala. Immaculée contou sentir uma grande emoção por estar no Brasil, dizendo que era um sonho realizado, assim como era conhecer o ex-jogador de futebol Pelé, e que aqui se sentia em casa. Na palestra, estavam presentes figuras conhecidas como Glória Severiano Ribeiro e Clara Magalhães, além do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta.

A ruandesa fala no Teatro Oi Casa Grande
Immaculée teve a oportunidade de expor sua história às mais de mil pessoas presentes na ocasião, contando como a sua fé e vontade de viver fizeram com que sobrevivesse ao genocídio, quando permaneceu escondida com outras sete mulheres em um banheiro minúsculo por 91 dias, enquanto ouvia notícias de que mais de um milhão de membros da sua tribo haviam sido mortos. Além disso, demonstrou sua capacidade de superação ao contar que perdoou cada um daqueles que chacinaram sua tribo, mortos que incluíam praticamente todos os seus familiares e amigos. Por fim, ainda contou como foi salva pelas forças da ONU e se mudou para os Estados Unidos, tentando retomar sua vida. A partir daí, foi incentivada por conhecidos a contar sua história, relatada através do livro lançado em 2006 e já traduzido para 15 idiomas.

Para Silvia Aquino, uma das idealizadoras do evento, ver Immaculée no Brasil era um grande desejo desde o momento em que começou a ler o seu livro. “A Immaculée Ilibagiza se tornou para mim um exemplo. Sua fé, determinação e capacidade de perdão me tocaram fundo. E eu precisava dividir esse sentimento cada vez mais, com mais pessoas”, disse emocionada.

Ao final de sua fala no Rio de Janeiro, Immaculée ainda recebeu mais uma homenagem: a Banda Filarmônica do Rio de Janeiro, juntamente com a bateria mirim da Beija-Flor, desempenhou de forma tocante a música “Aquarela do Brasil”, de Ari Barroso, encerrando uma noite de muita comoção para todos os presentes.

A escritora carrega a imagem em Aparecida

Na terça-feira, foi a vez de São Paulo receber a presença encantadora da ruandesa. Logo pela manhã, Immaculée proporcionou aos paulistas, grande parte estudantes da PUC-SP, uma apresentação no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, que excedeu sua capacidade máxima. À noite, um novo encontro no mesmo teatro, que contou com sua lotação total novamente, em mais uma cerimônia arrepiante. O encontro foi encerrado pelo Dr. Ives Granda Martins, renomado jurista brasileiro.

Na quarta-feira, último dia em que Immaculée esteve no país, ela visitou a cidade de Aparecida, em São Paulo, onde acontecia a Festa da Padroeira, e agradeceu à Nossa Senhora Aparecida pela graça de sua vida. A ruandesa ainda teve a oportunidade de carregar a imagem original da Padroeira durante a Missa Solene, uma honra oferecida a poucos, enquanto um grupo africano cantava e dançava, com a presença de mais de 40 mil fiéis.

Na despedida de Immaculée, no aeroporto de São Paulo, as últimas palavras da mulher que já havia emocionado a muito brasileiros: “Confesso que imaginei que teria muitas coisas a compartilhar com vocês. Assim o fiz, mas tenho que confessar que estou saindo daqui com muito mais coisas aprendidas do que ensinadas”.

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